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Desvendando a Religião de Matriz Africana em Torres: Um Diálogo com Mãe Cristina de Oyá.

mãe cristina de oyá - ilê funiqué - torres rs

Desmistificando tabus da religião e a importância de ter o primeiro terreiro na Rota Turística do Geoparque.

Nas praias espetaculares de Torres, um lugar que combina natureza e cultura, existe uma parte especial religiosa que atrai a atenção de todos. Decidimos mergulhar fundo para entender melhor a Religião de Matriz Africana, que faz parte da identidade cultural dessa região litorânea. E quem melhor para nos guiar nessa exploração do que Mãe Cristina de Oyá, líder do Ilê de Oyá Funiqué?

Nessa conversa, nós falamos com Mãe Cristina sobre muito mais do que apenas as crenças religiosas. Descobrimos coisas que podem ser diferentes do que você imaginava. Conversamos sobre os mitos e ideias erradas que cercam essa religião e aprendemos a ver de uma forma nova. Mas não paramos por aí. Também falamos sobre algo bem importante: a participação da Casa de Religião na Rota Turística do Geoparque.

O Geoparque Mundial da UNESCO Caminhos dos Cânions do Sul, busca impulsionar o desenvolvimento econômico da região e gerar oportunidades de um futuro melhor para seus habitantes, por meio da valorização do patrimônio natural e cultural e do turismo sustentável. Hoje, destaca-se na paisagem do sul do Brasil, entre os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, uma feição de grande expressão na paisagem da região Sul do Brasil.

E é nesse cenário que o Ilê de Oyá Funiqué traz um novo sabor à Rota Turística: o café com axé. Uma oportunidade para os visitantes não apenas conhecerem a religião, mas também degustarem um momento único de espiritualidade e cultura. Conectar-se com a história e a tradição, enquanto desfruta das belezas naturais do lugar. Uma combinação que promete desvendar ainda mais os segredos e encantos dessa região tão especial.

Nossa conversa nos leva para dentro da espiritualidade e cultura de Torres. Falamos sobre como diferentes crenças podem conviver em harmonia e aprender uma com a outra. Junte-se a nós para essa jornada de aprendizado e respeito, guiada pelas palavras de Mãe Cristina de Oyá.

 

Para entendermos melhor a personalidade da Cristina e mãe Cristina D’Oyá, existe alguma diferença entre essas duas personalidades, ou elas nunca se separam?

Mãe Cristina D’Oyá: Mãe Cristina de Oyá mantém a mesma personalidade, independentemente do contexto, seja dentro ou fora do terreiro. Não há discernimento entre esses dois cenários; assim, da mesma forma que repreendo minhas próprias filhas, não hesito em fazer o mesmo com meus filhos de Santo, se for necessário.

Mãe Crstina de Oyá - Ilê d'oyá funique - torres rs

Como foi seu início na religião e o que motivou a se tornar uma Mãe de Santo?

Mãe Cristina:

Minha jornada na Umbanda começou quando eu tinha apenas 9 anos, ajudando minha avó como cambona*. A paixão pela religião já estava no sangue. Naquela época, não tínhamos um espaço próprio e realizávamos atendimentos em casa, além de limpezas espirituais em residências, nas quais eu sempre estava presente. Minha avó e eu frequentávamos uma terreira em Porto Alegre.

Depois de alguns anos, voltei para Torres. Ao longo do tempo, passei por mais duas terreiras em Porto Alegre e me iniciei na Nação*. Inicialmente, não planejava abrir uma casa de religião em Torres. No entanto, ao começar a fazer consultas na galeria Cata-vento, onde fui pioneira, os atendimentos cresceram de maneira surpreendente.

Foi nesse período que conheci a proprietária do terreno onde nossa terreira está hoje. Ela se tornou minha primeira filha de santo. Logo depois, adquirimos o terreno e inauguramos nossa terreira. A partir desse momento, mais filhos de santo começaram a chegar, fortalecendo o crescimento da casa até os dias atuais.

  • *Cambona – pessoa que ajuda a cuidar das entidades.
  • *Nação – religião de matriz africana que cultua os Orixás.

Quantos anos você tem de religião e quantos anos como Mãe de Santo? 

Mãe Cristina: São 42 anos de religião e 25 anos como Mãe de Santo.

Como você definiria o terreiro?

Mãe Cristina: O terreiro se assemelha a uma igreja, porém é um espaço sagrado onde cultuamos nossos Orixás, que representam a própria natureza. Na essência, tudo é Orixá; desde o ar que nos envolve até o solo sob nossos pés, todos têm sua essência ligada aos Orixás. Por exemplo, o ar é um Orixá, assim como o solo e a madeira, uma vez que todos esses elementos têm origem neles.

Quando inaugurei o Ilê, minha principal motivação era auxiliar as pessoas. A observação das pessoas perdidas, enfrentando depressão, inúmeras situações difíceis e até mesmo casos de suicídio, me impulsionou a agir. Percebi que poderia oferecer ajuda por meio dos benzimentos e dos preceitos da religião.

A terreira se transformou em um refúgio acolhedor para todos que buscam orientação com fé. Acredito que, para aqueles que possuem força de vontade, o Orixá estende sua mão e caminha ao lado deles, constituindo uma companhia segura em suas jornadas.

Qual é o significado e a importância dos pontos cantados, dança e vestimenta tradicional dentro da religião?

Mãe Cristina: Os pontos cantados desempenham um papel significativo na religião. Na umbanda são cantados para saldar os caboclos e exus. Cada ponto cantado tem um propósito distinto, seja para lidar com demandas específicas ou para abrir caminhos. No contexto do batuque, são rezas direcionadas aos Orixás. Nesse cenário, as preces são oferecidas acompanhadas de danças e cânticos para louvar os Orixás, já que é o nosso sagrado.

Como a sua religião aborda a cura espiritual e física? Existem métodos específicos que são usados ​​para ajudar as pessoas em busca de cura?

Mãe Cristina: A religião tem semelhanças com um tratamento médico, pois é procurada por muitas pessoas em busca de saúde. Oferecemos práticas específicas para atender necessidades diversas, desde melhorias na saúde física até a remoção de energias negativas com rituais, como o banho de descarrego.

Nossas atividades religiosas podem auxiliar em vários aspectos, como troca de energia para a saúde e remoção de cargas negativas. No entanto, é fundamental ressaltar que a cura e a mudança vêm do próprio indivíduo. Ele precisa estar disposto a se envolver, acreditar nas práticas e encontrar suporte no âmbito espiritual.

Muitas vezes, as pessoas enfrentam solidão, mesmo com laços familiares e amizades. Isso pode estar ligado à falta de cuidado espiritual. Nesse momento, muitos buscam apoio na religião, encontrando consolo e orientação nas Entidades, Orixás e Exús durante as sessões. Assim, a religião se torna um guia, oferecendo direção para quem busca um sentido profundo e conexão espiritual.


Agora, vamos falar sobre Cultura e Religião. Ficamos sabendo de novidades para o terreiro e para o turismo de Torres.

Como a Religião conversa com a Cultura aqui no Sul?

Mãe Cristina: A comida une as pessoas e na nossa religião, há uma variedade de sementes, grãos e óleos importantes. No entanto, muitos não sabem disso por falta de familiaridade com nossa cultura religiosa.

A origem dos alimentos ligados aos Orixás é mal compreendida. Um exemplo é o Acarajé, comida de Orixás. Representa simbolicamente o acará, fogo do Orixá. A escolha do feijão tem significado profundo e história oculta. Tais questões têm respostas concretas, explorando origens e significados de cada alimento.

Cada alimento em nossas práticas tem história, simbolismo e propósito únicos. Ao entender essas histórias, apreciamos a riqueza cultural e espiritual em nossa alimentação e religião.

Falando em cultura e gastronomia, quem prepara as comidas para os Orixás dentro da terreira?

Mãe Cristina: No início, eu era a responsável por preparar a comida do Ilê. Era uma tarefa crucial, já que minha habilidade em realizar esse processo era essencial para poder transmitir esse conhecimento aos meus filhos de santo.

Hoje em dia, a dinâmica mudou e, em geral, são os meus filhos de santo que assumem essa função. Essa transição ocorre desde os mais experientes, que já completaram seus rituais de obrigações, até os iniciantes ou aqueles que estão dando os primeiros passos na religião.

Mas o aprendizado que engloba a preparação das comidas de todos os orixás se estende a todos os filhos de santo.

O Ilê será o primeiro Terreiro a participar do Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul. O que seria o Geoparque e qual a importância para o Ilê e para a região sul?

Mãe Cristina: O Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul é uma iniciativa que busca valorizar nosso patrimônio natural e cultural, promovendo o turismo sustentável. Para o Ilê e nossa região sul, é uma conquista significativa. Ser o primeiro Terreiro a participar é um marco, pois mostra o reconhecimento da nossa cultura religiosa e abre portas para compartilhar nossos saberes com os visitantes. Isso contribui para a preservação da nossa tradição, gera visibilidade para a casa e, ao mesmo tempo, enriquece a experiência dos turistas ao conhecerem nossa espiritualidade e a conexão com a natureza dessa região.

O Café com Axé será a serviço que o Ilê irá oferecer para os turistas, poderia nos explicar o que seria o café e os diferenciais?

Mãe Cristina: O nosso Café com Axé será uma oportunidade única para as pessoas mergulharem na nossa religião e também compreenderem as comidas dos Orixás. A cada mês, teremos um café temático que representa o Orixá correspondente. A religião é cheia de histórias e cultura profundas, e estamos trazendo essa rica experiência para os visitantes, unindo cultura, religião e gastronomia. É uma forma de compartilharmos nossa tradição, mostrar a conexão com a natureza e proporcionar uma experiência completa, onde cada prato é uma história contada com sabores.

Os grupos são fechados a partir de 10 pessoas e no máximo 20, para podermos atender melhor e também oferecer uma melhor experiência. Para agendar um horário. CLIQUE AQUI!

Vamos falar de Desafios?

Quais são os desafios que você enfrenta ao liderar sua comunidade religiosa? Como você equilibra a tradição com as demandas em constante mudança da sociedade moderna?

Mãe Cristina: O maior desafio é fazer o filho de santo entender a responsabilidade que ele assume. As obrigações são anuais, mas ao longo do ano, os filhos precisam jogar búzios para saber que precisam se cuidar espiritualmente. É usar branco, respeitar a tradição e estar fortalecido. É uma jornada importante, mas desafiadora.

Quais são os desafios enfrentados ao manter um terreiro? Como você lida com esses desafios?

Mãe Cristina: Constantemente, faço questão de fortalecer e repito frases como: “Fulano, por favor, não descarte isso ali, pois aquilo equivale a cuidar da sua própria casa”, ou “Fulano, vamos fazer uma limpeza aqui”, e também “Beltrano, é hora de limpar nossos Santos, nossos Exus”. Acredito firmemente que se tudo o que absorverem aqui for levado para seus lares, certamente experimentarão uma felicidade mais plena. Essa conexão é o que almejo que as pessoas cultivem.

Minha Casa é pautada em “disciplina” e “regras”, embora compreenda que esses aspectos muitas vezes fazem alguns filhos não permanecerem. Atualmente, meus maiores desafios concentram-se nos filhos de santo. Quanto ao preconceito, lido bem com ele, até porque mantenho uma postura resiliente.

Como o terreiro atua como um espaço de apoio e solidariedade para a comunidade? De que forma ele pode ser uma fonte de ajuda além do espiritual?

Mãe Cristina: Oferecemos um apoio significativo às pessoas da nossa comunidade. Durante a pandemia, por exemplo, o Ilê promoveu inúmeras doações. Ao final do ano, realizamos o evento “Noel da Silva”, uma ocasião em que nos unimos para arrecadar brinquedos, conforto alegria às crianças. Além disso, conduzimos campanhas sempre que tomamos conhecimento das necessidades de alguém. Graças à Deus, acredito, que o nosso Ilê é bem-visto pela comunidade.

Como você vê o futuro de sua religião? Quais são suas esperanças e preocupações em relação à preservação e evolução da mesma?

Mãe Cristina: Fico muito feliz com o que construo no Ilê, pois sei que pelo menos uma das minhas filhas, se não ambas, continuará o trabalho que comecei na religião. Um religioso exemplar deixa um legado; quando ele parte, o terreiro permanece e os filhos continuam, mantendo as tradições. Assim, sua jornada se transforma na história de outros. Com novos filhos e os mais antigos, vejo o futuro se formando com entusiasmo.

Qual orientação você daria para pessoas que possuem preconceitos em relação à religião e para aqueles que têm interesse em entrar para uma casa de religião?

Mãe Cristina: Falando de “preconceito”, para as pessoas terem uma compreensão mais abrangente da religião: Convido todos a fazerem seus grupos e virem tomar um “Café com Axé” ou a se juntar a uma sessão de benzedura, que consta no nosso calendário anual. Estas são duas opções para a pessoa se familiarizar com nosso trabalho e nossa religião. Além disso, serão bem-vindos para conversar comigo ou até mesmo participar do Culto Ecumênico que realizamos anualmente na Igreja São Domingos, sempre no final do ano.

Para pessoas interessadas em ingressar em nossa religião, a aplicação costuma variar. As pessoas podem entrar por razões espirituais, provenientes de outras tradições religiosas, ou por sentir um vazio que busca preencher. Por exemplo, já recebi aqui indivíduos budistas que estavam em busca de algo mais, sentindo um vazio interno que desejavam preencher. Em casos como esses, eu jogo búzios para avaliar se essa é a direção correta para a pessoa.

Contudo, é crucial compreender que aderir a uma religião exige um comprometimento profundo, não apenas uma experiência momentânea de incorporação espiritual. É uma jornada que envolve tratar de sua espiritualidade e mergulhar na cultura e nos ensinamentos da religião. Isso inclui desde os aspectos práticos, como onde as panelas são guardadas, até a totalidade dos princípios religiosos. A dedicação é essencial nesse processo. Enfatizo que não se trata de fanatismo, mas sim de prática religiosa sólida.

Cris ficaríamos horas aqui conversando com você! Queremos muito te agradecer, nosso bate-papo foi incrível! Mas para finalizarmos, teria uma mensagem final para deixar para as pessoas?

Convido vocês a virem conhecer nossa religião, a ver a essência que há nela. Não é necessário se comprometer ou frequentar; trata-se simplesmente de conhecer e compreender. O objetivo é desmistificar a ideia errônea de que estamos ligados a demônios ou à destruição. Nossa religião é repleta de beleza e profundidade.

Recomendo que não limite sua experiência na Festa da Iemanjá, já que ali também encontramos críticos que, ironicamente, buscam o passe. Convido você a explorar o funcionamento interno de um terreiro, a vivenciar o dia a dia e compreender como tudo acontece. Venham testemunhar por si o que acontece aqui, e como a beleza de nossa religião se revela.

Conheça mais sobre o Ilê D’OyáFuniqué

Chegamos ao final dessa incrível jornada de aprendizado e descoberta ao lado de Mãe Cristina de Oyá Funiqué. Esperamos que você tenha apreciado cada pedaço do conhecimento compartilhado e que tenha encontrado inspiração para se aprofundar ainda mais nessa rica religião.

A busca por compreender a Religião de Matriz Africana é contínua e abrangente, e esperamos que este conteúdo tenha sido apenas o ponto de partida para a sua jornada. Se você deseja mergulhar mais fundo, há oportunidades emocionantes para explorar.

Caso queira conhecer o Terreiro Ilê de Oyá Funiqué pessoalmente, agendar uma visita ou experimentar o Café com Axé, estamos à disposição para receber você e compartilhar mais sobre essa herança cultural e espiritual.

E para ampliar ainda mais essa experiência, convidamos você a conferir o mini vlog produzido pelo Busca Certa Online durante a nossa visita ao Terreiro. Ele oferece um vislumbre visual da riqueza desse local.

Se você tiver dúvidas, quiser agendar uma visita ou conversar pessoalmente com Mãe Cristina de Oyá, não hesite em entrar em contato conosco através dos links abaixo:

Agradecemos por embarcar nessa jornada conosco e esperamos que você compartilhe essa experiência com outras pessoas que também possam se beneficiar dessa rica tradição e cultura. O aprendizado e a conexão são infinitos, e estamos aqui para guiá-lo nessa jornada de exploração.

Deixe seu comentário e compartilhe com quem precisa conhecer mais sobre a religião.

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